Psicologia Clinica e Organizacional - PSICOTERAPIA

A RHPSI atua contribuindo para o crescimento e desenvolvimento humano envolvendo os três pilares que sustentam a sociedade: Saúde, Educação e Trabalho.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

CRASH – NO LIMITE (BR)

CURSO DE PÓS- GRADUAÇÃO (LATO SENSU) EM VIOLÊNCIA CRIMINALIDADE E POLÍTICAS PÚBLICAS - UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE


ARTIGO ESCRITO PARA A DISCIPLINA: CULTURA, RAÇA, IDENTIDADE, E ETNICIDADE.

PROFESSOR: FRANK MARCON


ESCRITO POR: NAIRETE CORREIA
Psicóloga(UCDB/MS/Brasil - 1984); Especialista em Psicologia Organizacional e do Trabalho – POT(CFP/CRP-03) e Mestre em Administração de Empresas com foco em Gestão de Pessoas (UEX/ES/UFRN/BR, 2001).Psicóloga da UFS; Consultora Organizacional-(RHPSI- Desde 1989).


A análise do que retrata o filme CRASH - no limite, nos leva a observação do CAOS no qual sobrevive a sociedade atual. De modo geral as pessoas, independente de classe social, credo, ou grupo étnico ao qual pertençam, participam de uma realidade democratizada. Em termos de comportamento social, surge um sentimento de medo gerado, tal vez pela alta complexidade das relações de poder e competitividade entre os grupos, que se instalou de forma caótica e progressiva. Esse medo tem provocado um distanciamento maior entre as pessoas e reproduzido em grande escala a separatividade discriminatória.

Morin (1996) citado por Bauer (1999), nos leva a seguinte reflexão:

“ uma sociedade está em autoprodução permanente (...) por meio a desordens e antagonismos, conflitos que minam sua existência e, ao mesmo tempo, mantêm sua vitalidade”.

Então a sociedade é como se produz. Nesses milhares de anos a sociedade vem criando mecanismos de diferenciação entre os homens: pela raça (tipo biológico), pela genética, pela localização geográfica, por características de personalidade, pelo nível sócio-econômico, etc. Segundo a teoria da fractalidade as pessoas são seres duais, residindo essa dualidade na possibilidade de assumir posições em ambos os lados do divisor canônico EU/OUTRO. São as pessoas capazes de bondades e de maldades, todas podem proteger ou destruir seu semelhante a si mesmo ou a natureza, a depender de situações circunstanciadas. Da perspectiva de que homem é um ser dual sujeito/objeto, ele pode fazer de um ser igual a sua própria presa. De destruir o outro mesmo que para isso tenha que destruir a si próprio. O filme traz a dura realidade do encontro do homem consigo mesmo na perspectiva fractal, na forma convergente de troca de uma teoria por outra. A consciência das pessoas de que é um ser dual Sujeito-Eu/Objeto-Outro, se expressa de forma clara quando se pode admitir tornar-se presa de alguém, ou fazer de alguém sua presa.

O CAOS instituído, nas relações humanas entre os povos, que contempla interesses e poder, está presente no dia-a-dia, em todos os lugares e dele faz parte a necessidade humana de discriminar, seja lá qual for o critério utilizado para que cada um se sinta o melhor, aquele que é diferente, o que pode mais, o que tem maior prestígio, o vencedor dentro da sociedade, não importando o por quê, para quê ou como.

Alain Tourraine (1977) citado por Bauer(1999) aborda antecipadamente conceitos posteriormente expressos pelas teoria de autopoiesis e a do order from noise: “ A sociedade não é apenas reprodução e adaptação; é também criação, autoprodução (...) A sociedade produz a si mesma”.

Se utilizando de conceitos da historicidade e comparando com o conceito autopoiético de auto-referência, Tourraine afirma que historicidade seria a capacidade simbólica da sociedade de permitir construir tanto um sistema de conhecimento (identidade) como os instrumentos para intervir em seu próprio funcionamento (atividade) e diz ainda que o modelo cultural (autopoiesis) traduz a capacidade de ação e de reflexão que a sociedade tem para si própria. É através da sua teoria que Tourraine explica a formação persistente e estável a longo prazo de todos os tipos de arranjos sociais: associações, clubes, religiões e culturais que congrega, agrega e desagrega o homem.

O grau de confiança estabelecido nas relações entre os povos, depende de como foram construídas suas histórias de vida. O filme aborda várias situações conflitantes mostrando as diferentes possibilidades humanas e as diferenças de comportamento que podem ocorrer sob a influencia da situação e do ambiente. Os estudantes universitários que podem se transformar em transgressores por carregarem dentro de si sentimentos de inferioridade e recalques que lhes perseguem desde a sua infância, e de apoderar-se deles num momento de fragilidade psico-emocional e envolvidos num ato de poder ter como suas presas, pessoas que não fazem parte do seu mundo ou que eles julguem, fazer parte de uma classe que contribui de certa forma para o seu sofrimento. A dona de casa que aterrorizada pelos fatos que tem ocorrido se torna neurótica e desconfia de tudo e de todos; o policial que assume dois papéis o de perverso e de salvador; a mãe enlouquecida que protege seu filho que optou pela vida irregular; o policial ético que de tão atemorizado acaba matando a quem desejou por um momento proteger, por se sentir ameaçado. A discriminação que não é apenas racial, mas sim uma questão cultural que vem se arrastando por séculos, é uma realidade, que vem sendo usada como um meio de extravasar sentimentos negativos gerados entre as sociedades e utilizados por pessoas mentalmente perturbadas para validar e reafirmar um pré-conceito ou um conceito prévio do que é o outro ou o que poderá vir-a-ser.


Referências:
Imagem em Movimento: Filme longa metragem gravado em DVD.
CRASH – No limite. Direção: Paul Haggis, Robert Moresco. Produção: Paul Haggis, Cathy Schulman, Don Cheadle, Robert Moresco e Mark Harris; Roteiro/Guião: Paul Haggis; Robert Moresco. Interpretes: Sandra Bullock, Don Cheadle, Matt Dillon, Jennifer Esposito, William Fichtner, Brendan Fraser, Ludacris, Thandie Newton, Ryan Phillippe, Larenz Tate, Tony Danza, Keith David, James Haggis, Dato Bakhtadze, Don Cheadle; [ Imagem Filmes], 2004. DVD-113 minutos.

Bibliográfica;
BAUER, Ruben. Gestão da mudança: caos e complexidade nas organizações. São Paulo: Atlas, 1999.

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